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Série de textos com tradução autorizada pelo autor para a distribuição pela associação


David Grand, Ph.D.

Traduzido por Norma

Revisão Priscila Leiko Fuzikawa



Resumo: Brainspotting (BSP) é um enfoque novo de tratamento que propõe que o campo visual pode ser usado para localizar posições oculares que se correlacionem de maneira relevante com as experiências neuronal e emocional internas. Uma vez localizadas, essas posições oculares, ou Brainspots (pontos cerebrais) podem levar – por meio da manutenção da fixação ocular – à resolução de questões armazenadas profundamente nas áreas nãoverbais, não-cognitivas do cérebro. O BSP utiliza tanto a ativação focada quanto a conscientização plena (mindfulness) focada como mecanismos de intervenção. O objetivo é conseguir a liberação completa e exaustiva da ativação contida no cérebro e no corpo. BSP é um modelo que incorpora ativação e recursos sistêmicos aplicados com base em considerações de diagnóstico e desenvolvimento. O modelo BSP é desenvolvido tanto de forma relacional quanto técnica, com fundamentos filosóficos e fisiológicos. É um modelo aberto, inclusivo que convida os terapeutas a fazerem uso de sua formação prévia e sabedoria advinda da experiência profissional.

Palavras-chave: posição ocular relevante, sintonia dual, reprocessamento neurológico, experiência somática, estimulação bilateral.


ANTECEDENTES


O Brainspotting (BSP) foi descoberto por David Grand Ph.D, autor deste artigo, em 2003. Este trabalho descreve com detalhes o descobrimento, assim como dá mais informações sobre o desenvolvimento atual do BSP do ponto de vista técnico, clínico, neurobiológico e filosófico (Grand, 2009). BSP é uma abordagem psicoterapêutica, que utiliza o campo visual para localizar “posições oculares relevantes” (ou Brainspots, pontos cerebrais) que se postula que se correlacionem com a estimulação neurológica e com a experiência interna. A fim de se determinar estas posições oculares, o cliente é guiado a um estado de “ativação focada” que, geralmente, se apresenta como resposta ao trauma psicológico ou a sintomas emocionais ou somáticos. Isso é avaliado num nível de ativação de 0 a 10 (de menor ao maior) através da escala SUDs (Subjetive Units of Disturbance Scale, Escala de Unidades Subjetivas de Perturbação), seguida da localização da maior ativação no corpo – exceto quando se utiliza o modelo de recurso -(Wolpe, 1969). Atualmente existem seis métodos diferentes (que serão tratados na parte principal deste artigo) para localizar as posições oculares. Uma vez determinadas, o cliente é orientado a observar sem críticas seu processo interno tal como ocorre sequencialmente, incluindo o afeto, a memória, a cognição e especialmente, as sensações corporais. Essa autoobservação chama-se “mindfulness focado (consciência plena focada), que é semelhante à meditação, porém se realiza em um estado de ativação focada. Em vários momentos, determinados pelo cliente ou pelo terapeuta, tem-se um breve diálogo, verificando a natureza do processamento. Em seguida, o terapeuta reorienta o cliente para a experiência no corpo, dando continuidade à auto-observação não-guiada. O processo continua até que o cliente chegue a um estado de resolução, determinado ao se retornar à questão original de ativação, sem a presença de qualquer ativação na escala SUDs. Isto é reforçado solicitando ao cliente que “esprema o limão”, tentando reativar internamente o nível de SUDs para novamente iniciar o processamento até que não possa mais ser reativado. A partir do diagnóstico, da complexidade da condição e da capacidade do cliente para processar, a resolução pode ocorrer em qualquer momento entre a primeira sessão e vários meses ou até anos de tratamento (Grand, 2009).


A DESCOBERTA DO BRAINSPOTTING


O BSP foi descoberto pelo autor em 2003 enquanto trabalhava com uma patinadora no gelo de 16 anos. Ela era atendida há um ano, em sessões semanais de 90 minutos, para questões importantes de desempenho que tinham qualidade dissociativa. Por exemplo, nos aquecimentos, antes de uma competição, ora se sentia como se houvesse esquecido o programa, ora dizia que não sentia as pernas. Em razão disso, seus desempenhos estavam muito abaixo de seu nível o que gerou uma incapacidade de competir a nível nacional à altura de seu talento. Durante o ano de tratamento o autor utilizou sua abordagem chamada “O Sistema Grand” (Grand, 2001) que incluía aspectos do EMDR – Eye Movement Desensitization and Reprocessing (Shapiro, 2011), SE – Somatic Experiencing (Levine, 1997) micromovimentos e terapia psicodinâmica. Os fatores que desencadearam os problemas de desempenho da patinadora eram provenientes de uma série de traumas, que incluíam a rejeição materna, discórdia entre os pais que resultou em divórcio quando a cliente tinha seis anos de idade, assim como uma longa história de lesões esportivas, fracassos e humilhações. A maior parte do tratamento teve sucesso, mas houve algumas exceções, como por exemplo, a incapacidade de completar uma pirueta tripla.

Este salto não é o mais difícil para os patinadores de alto nível, como minha cliente, e sua incapacidade de realizá-lo a impediu de participar com sucesso tanto em programas curtos como longos. A cliente foi orientada a imaginar que realizava a pirueta tripla em câmera lenta, e a congelar a imagem no momento preciso no qual sentia e via que "as coisas começavam a dar errado” . Em seguida, foi orientada a seguir os dedos do autor que se moviam de um lado para outro cruzando seu campo visual. Depois de poucos movimentos, em um ponto um pouco fora do centro de seu campo visual, seus olhos tremeram em movimentos microssacádicos sustentados, e, em seguida, se fixaram em uma posição congelada. (Martinez-Conde & Macknik, 2007). Surpreendido por esta resposta, o autor reflexamente parou de mover os dedos, e os manteve diretamente em frente aos olhos imobilizados da cliente, a uns noventa centímetros de distância. Durante os 10 minutos seguintes se produziu uma torrente notável de processamento. Várias novas memórias traumáticas emergiram, e foram rapidamente processadas até a resolução. Porém, ainda mais surpreendente foi que um número significativo de traumas “resolvidos” foram reabertos e reprocessados em nível mais profundo. No final dos dez minutos, o processamento ficou mais lento e se completou, e o bloqueio ocular foi passou.

Decerto, esse foi um fato inusitado, mas foi reforçado na manhã seguinte quando a jovem patinadora ligou após o treino. Com entusiasmo informou ter realizado várias vezes a pirueta tripla sem nenhum problema. Nunca mais teve problemas com o salto. Isto chamou a atenção do autor que começou a buscar manifestações oculares semelhantes em outros clientes, enquanto rastreava lentamente através do campo visual deles. Quando as percebia, repetia o procedimento de manter seus dedos imóveis bem no ponto onde havia acontecido a anomalia. Não só lhe chamou a atenção uma aceleração e um aprofundamento dos processos, mas também foi surpreendido novamente pelos relatos dos clientes. Comentários como, “isto realmente é diferente”, “a sensação é muito mais profunda”, “posso senti-lo na parte posterior da minha cabeça”, “realmente sinto isso em meu corpo” surgiram de um amplo leque de clientes. Cabe destacar especialmente as declarações de clientes que também eram terapeutas, indicando que haviam observado uma experiência e resultados muito diferentes com esta nova abordagem. Além disso, com instruções do autor de como realizar a técnica, muitos desses terapeutas a aplicaram com seus próprios clientes e relataram experiências similares com resoluções mais rápidas e profundas. Assim, no percurso de um mês, o autor, a partir das suas próprias observações e do feedback de seus clientes terapeutas, determinou que havia encontrado um novo método e talvez um novo paradigma.


CONTINUIDADE DO DESENVOLVIMENTO DO BRAINSPOTTING


Durante os meses seguintes continuou aplicando o novo procedimento e se deu conta de que, quando parava o seguimento ocular horizontal no nível dos olhos no ponto onde observava qualquer resposta reflexa, obtinha um processamento profundo e acelerado similar. Esses reflexos incluíam piscadas, inspirações rápidas, tosse, engolir com força, movimentos da boca, abertura ou estreitamento dos olhos, inclinação da cabeça e mudanças na expressão facial, dentre outros. O autor achou estas novas manifestações tão curiosas quanto atrativas, pois tornavam sua exitosa habilidade de ajudar os clientes a processar questões até a resolução ainda mais potente e completa. Buscou um nome para este processo e chegou ao Brainspotting, reconhecendo que estes “pontos” no campo visual pareciam acessar locais e funções no cérebro. Ao longo dos seis meses seguintes, o autor aplicou cada vez mais sua nova técnica, acumulando evidências de sua eficácia com uma ampla variedade de clientes que apresentavam diferentes diagnósticos, históricos e sintomas. Parece que a contenção proporcionada pelo olhar fixo e a possível ativação neurológica focada concomitante logravam uma abordagem única para a cura emocional.

O autor reconheceu a necessidade de ter uma forma organizada, porém simples, de conseguir, no cliente, a ativação focada com a finalidade de iniciar uma atividade cerebral ótima, necessária para localizar com precisão as posições oculares relevantes. Assim, desenvolveu um processo simples de “preparação” para conseguir isso. Começava perguntando ao cliente se estava “ativado” em relação ao tema que queria trabalhar. Isso era avaliado através da escala SUDs (Subjective Units of Disturbance) que foi comentada anteriormente neste artigo (Wolpe, 1969). Se a ativação fosse insuficiente, o cliente era orientado a “ir para dentro de si mesmo e fazer o que fosse necessário para aumentar o nível de ativação”. Se fosse suficientemente alta, o SUDs era avaliado de zero (mais baixo) a dez (mais alto). O passo seguinte consistia em localizar a área de ativação no corpo observando "onde sente a ativação mais presente". Depois de alcançada a ativação focada, a preparação se completava com a localização do Brainspot no campo visual do cliente. Após a preparação, o cliente era guiado até o processo de mindfulness focado que finalmente leva ao ponto de resolução da questão que gerava a ativação.


BRAINSPOTTING DE JANELA EXTERNA E DE JANELA INTERNA


À medida que o processo de BSP continuava, o autor observava de perto e escutava atentamente as reações e o feedback dos clientes. Chamava a atenção o fato de que alguns clientes, que estavam sendo observados com relação a suas respostas reflexas, informaram sobre posições oculares que ressoavam com sua sensação interna. Eles guiaram o autor a pontos específicos onde sentiam a máxima ativação por meio de comentários como: “você acabou de passar do ponto”, ou “movimente a ponteira para lá”. Isto o surpreendeu, já que não havia considerado que os Brainspots podiam ser localizados pelos clientes a partir da experiência interna deles. Por conseguinte isto trouxe duas opções para localizar as posições oculares relevantes no eixo horizontal ao nível dos olhos. Chamou “Brainspots de Janela Externa” as localizações iniciais determinadas através da observação externa de respostas reflexas, e “Brainspots de Janela Interna” as localizações determinadas através da intensificação auto-observada do cliente. A fim de localizar estas posições oculares de Janela Interna, perguntava aos clientes se sentiam a máxima ativação ao olhar para a esquerda, centro ou direita, seguindo a ponteira que ele deslocava através do campo visual. Uma vez que a localização geral estava determinada, ia afinando para chegar à localização mais precisa de ativação. Porém, os clientes continuavam guiando-o não só à esquerda e direita, como também acima e abaixo do nível dos olhos. Esse desenvolvimento o levou a buscar primeiro os Brainspots ao longo do eixo horizontal X, e, em seguida, a explorar acima e abaixo no eixo Y em busca da máxima ativação percebida. Isso permitiu ao BSP passar de um processo unidimensional para duas dimensões.


FENOMENOLOGIA


O autor, antes do descobrimento de BSP, havia desenvolvido uma versão modificada do método de EMDR que designou como “Natural Flow EMDR” (Grand, 2001). Incorporou a maior parte desse enfoque no desenvolvimento do BSP. Os princípios básicos do enfoque Natural Flow incluíam o “modelo de não-suposição” ou fenomenologia (“observar tudo, não presumir nada”), o uso do recurso corporal proveniente da Experiência Somática (Levine, 1997), e movimentos oculares mais lentos e estimulação bilateral auditiva suave (Grand, 2002). Todos esses métodos eram adequados para o BSP e foram incorporados como tais.

A fenomenologia surgiu de décadas de experiência clínica observando como o inesperado sempre surge na sessão, junto com a quantidade crescente de informação sobre a infinitude do cérebro, e, assim sendo, sobre a impossibilidade de conhecê-lo através da observação externa. Este enfoque clínico / filosófico implicava rastrear ou seguir ao cliente onde quer que fosse em seu processo, sem crítica e sem expectativas. Este foi o reconhecimento da necessidade de não guiar o cliente, e de que seguir o processo não só implica atender os processos associativos, como também seguir a atividade neuronal. O autor observou que muitos pressupostos sutis estavam inclusos na maioria dos modelos clínicos, e que haviam se convertido em parte do treinamento e dos sistemas de crenças desenvolvidos por muitos terapeutas. Nos seus treinamentos, frequentemente desafiava os terapeutas que apresentavam análises acerca da situação de clientes perguntando “como pode saber isso?”

MODELO DE SINTONIA DUAL


BSP é visto como um “Modelo de Sintonia Dual” semelhante ao “Modelo de neurobiologia interpessoal” (Siegel, 2010). Isso implica a sintonia simultânea do modelo relacional, junto com a sintonia neurobiológica dos aspectos técnicos de localizar e usar os Brainspots.

Cabe ressaltar que o autor trabalhou 27 anos como psicoterapeuta de fundamento relacional antes do descobrimento do BSP. Sua formação original foi em psicanálise e psicoterapia psicodinâmica, desenvolvendo a habilidade de escuta sintonizada dos múltiplos níveis de comunicação dos clientes. Entretanto, o modelo analítico era demasiado estruturado, e ele começou a interagir de maneira mais aberta, flexível e acessível com os clientes. Isso ampliou o alcance de sua sintonia, da observação para a interação. As habilidades de sintonia de um psicoterapeuta vão se aprofundando e ampliando ao longo dos anos e décadas de pratica clínica, e são consideradas por muitos tanto uma arte como uma ciência. Consequentemente é interessante saber que o BSP foi descoberto e desenvolvido por um psicoterapeuta com mais de três décadas de experiência. A determinação de um Brainspot, descrito anteriormente como uma posição ocular relevante, é uma concepção muito técnica do ponto de vista neurobiológico. Em essência, não parece haver nada de psicológico nisso. É mais um processo no qual a máxima ativação é observada pelo terapeuta ou experimentada pelo cliente. Isso pode ser visto como algo semelhante a um exame médico. Deste ponto de vista privilegiado, o aspecto técnico do BSP é uma sintonia drasticamente diferente da sintonia relacional. O BSP, em contraste com muitos outros modelos neuro-técnicos, é conceituado e ensinado de um ponto de vista clínico. A relação terapêutica não está orientada ao serviço do BSP, mas é o BSP que serve e apoia a relação curativa. Entretanto, não se privilegia o poder da sintonia técnica, nem da relacional. A atenção à síntese dessas duas, o modelo de sintonia dual, é a condição sine qua non do BSP, portanto, a fonte do seu poder único.


MODELO INTEGRATIVO


O BSP é também único, na opinião do autor, pois é desenhado como um modelo integrativo. Muitas vezes as abordagens clínicas / técnicas são ensinadas desencorajando tudo o que não seja uma fidelidade ao modelo. Em outros enfoques a integração é tolerada com uma atitude de “tudo bem se você fizer isso”. Com BSP a integração não só é algo “permitido”, mas sim estimulado. Isto se encaixa com como a fenomenologia se aplica ao BSP, com o conhecimento de que o sistema humano é vasto demais para ser entendido de fora. Por causa disso não pode haver um único modelo que abranja este sistema. De fato, isto explica o porque do surgimento e a eficácia de tantos modelos da mente humana. Qualquer abordagem clínica pode ser utilizada com BSP ou em um Brainspot. De fato, a complexidade da resposta ao BSP faz necessário que o terapeuta seja muito versado em uma grande variedade de modalidades para compreender e responder ao indefinido ou imprevisto. Segundo o autor, alunos de diversas origens clínicas encontram no BSP um denominador comum que reflete seu caráter sintético.


NEUROFISIOLOGIA


Os mecanismos que regem o enfoque BSP ainda estão por ser compreendidos ou são conhecidos em âmbitos fora da base de conhecimento do autor. Sabe-se que o olho humano é uma extensão do cérebro. Contém cerca de 125 milhões de células nervosas sensíveis à luz (fotorreceptores) que geram sinais elétricos que permitem que o cérebro veja. Há tanto um sistema visual consciente como um inconsciente, e cada processo transcorre ao longo de vias separadas no cérebro. O sistema inconsciente guia a ação e o sistema consciente reconhece os objetos (Carter, 2009). Postula-se que com o BSP “aonde você olha afeta o que sentes” e que as diferentes posições oculares de alguma maneira se correlacionam com atividade neuronal específica e com a experiência interna. Parece também que, ao manter o olhar durante o estado de ativação focada em torno de um assunto, a atividade neuronal está mais focada, e conduz a um processamento mais econômico e a uma resolução da experiência interna tanto neuronal como das sensações sentidas. O autor, como muitos outros, acredita que as conexões neuronais estão orientadas à cura (Badenoch, 2008). Também acha que isto está impulsionado pelo instinto de sobrevivência que está na base de toda experiência animal e humana. Além disso, o autor crê que nada acontece no sistema humano que não afete todas as outras partes e a totalidade do sistema. Isto explica o porquê do BSP ter sido desenhado como um enfoque do cérebro/corpo. BSP também é relacional, entendendo que o apego original à mãe/cuidador(a) é o fundamento da relação terapêutica e subjacente a todo o desenvolvimento e cura psicofisiológicos.


O MODELO DE RECURSOS DO BRAINSPOTTING


O “Modelo de recursos” (“Resource Model”) é um aspecto essencial do BSP. Amplia a aplicação do BSP aos clientes mais traumatizados, dissociativos, com tendência a sentirem-se excessivamente assoberbados para utilizar as chamadas “terapias potentes”. O recurso corporal é central para o Modelo de Recurso do BSP. O uso do recurso corporal no BSP resulta das discussões do autor com Peter Levine, criador do modelo de Experiência Somática – Somatic Experiencing, SE (Levine, 1997). Levine questionou o EMDR por considerá-lo ativante demais, sobretudo na sua ênfase de ativação do corpo. Levine ensinou ao autor, como nos treinamentos de SE, a orientar os clientes até onde se sentissem mais tranqüilos e mais enraizado em seus corpos. O modelo de “pendulação” de Levine implica dedicar mais tempo e atenção aos recursos do corpo (“vórtice de cura”) e muito menos tempo às margens externas da ativação corporal (“vórtice do trauma”). No enfoque de Fluxo Natural (Natural Flow), o autor, na conclusão do protocolo de EMDR, orienta o terapeuta a passar da ativação corporal ao recurso corporal e a começar o processamento a partir daí. Isso resultou num processamento com menos ab-reação e mais tolerável para pacientes frágeis, altamente traumatizados e dissociativos. No BSP o autor observou que a contenção proporcionada ao olhar fixamente o Brainspot, nem sempre era suficiente para esses clientes que ficavam facilmente abalados. Ao incluir o recurso corporal enquanto se estava em um Brainspot, observou que muitos clientes podiam tolerar melhor a agitação emocional e a ativação corporal, e assim processar melhor e de maneira mais eficaz. Também se deu conta de que os Brainspots podiam ser determinados não apenas em correspondência com a ativação, como também localizados em consonância com a calma do corpo ou a sensação de enraizamento, e os chamou de “Pontos de Recurso”. Esse foi o princípio do “Modelo de Recurso do Brainspotting” que foi ampla e sistematicamente desenvolvido por Lisa Schwarz (Schwarz, 2010).


SOM BILATERAL


Outro aspecto que o autor incluiu do Natural Flow no BSP foi a utilização do som bilateral, proporcionado pelos seus CDs de BioLateral Sounds. Esses CDs foram desenvolvidos para trasladar suavemente, de um ouvido ao outro, sons naturais curativos e música lenta. Esses CDS usados continuamente eram o modo primário de estimulação bilateral utilizado pelo autor na sua versão de EMDR. Ele tinha interrompido o uso deles com a chegada do BSP, ao sentir que eram desnecessários devido à força de seu novo paradigma. Contudo, alguns clientes solicitaram também escutar o som durante o BSP. Para sua surpresa, o autor descobriu que, para a maioria dos clientes, os CDs lhes proporcionavam um “recurso auditivo” que aprofundava e apoiava o processo. Em resposta, aconselhou o resto de seus clientes a escutar o som durante o tratamento de BSP. As únicas exceções foram os clientes hiper-estimulados, para os quais até mesmo o modelo de recursos (2010) poderia ser um desafio para a sua capacidade de permanecer enraizados. É fundamental destacar que fazer BSP com CDs acessa e estimula, simultaneamente, tanto o sistema neurovisual quanto o neuroauditivo. A potência da dupla ativação sensorial e seus efeitos merece mais investigação e estudo.


BRAINSPOTTING DE UM SÓ OLHO


Conforme direcionado e desenvolvido pelo autor, BSP foi e continua sendo um modelo aberto, integrador e em constante evolução. Uma destas primeiras integrações foi o uso de Brainspotting “de um só olho”. Essa forma de trabalho foi adotada de Frederic Shiffer, quem determinou que cada hemisfério do cérebro era como uma personalidade separada (Shiffer, 1999). O acesso aos dois lados do cérebro através do sistema visual se produz de maneira cruzada com relação aos hemisférios. Por causa disso, desenvolveu óculos de proteção que limitavam a visão em um ou outro olho, de modo que, em cada caso, a luz entrava apenas da extrema esquerda ou da extrema direita, ativando o hemisfério oposto no cérebro. Ao trocar periodicamente os óculos, Schiffer observou uma resposta integradora que conduzia à resolução da questão. Antes do BSP o autor havia utilizado o modelo de Schiffer com resultados interessantes junto com os movimentos oculares e o som bilateral. Ele levantou a hipótese de que aplicar o BSP no olho mais ativo focalizaria ainda mais o poder de seu método quando fosse necessário. Mas teve que desenvolver óculos modificados, pois a versão de Schiffer cobria a maior parte do campo visual, o que impossibilitava o Brainspotting. Em contraposição, os óculos de BSP foram desenhados para ocultar 50% do campo visual, ou um olho, ou o outro. A fim de determinar qual dos olhos tinha maior nível de ativação pediu aos seus clientes que, cobrissem, alternadamente, cada olho para avaliar, com a escala SUDS, o nível de ativação do olho aberto. O olho com o SUDS mais alto foi chamado “olho de ativação” e o olho com o SUDS mais baixo “olho de recurso”. Uma vez determinado o olho de ativação, os óculos adequados eram colocados, deixando exposto o olho de ativação. Utilizou-se o BSP de Janela Interna para encontrar o ponto de máxima ativação no olho de ativação. Utilizavase a abordagem com um olho quando o cliente manifestava um processamento lento, ou em casos de condições emocionais imprecisas como transtorno de ansiedade generalizada, depressão crônica ou condições físicas como a síndrome de fadiga crônica ou a fibromialgia. Inicialmente, o autor supôs que quando se processava o nível SUDS até zero, o processo já estava completo. Porém, se deu conta de que podia ser que faltasse algo, e começou a checar o olho de recurso depois de ter alcançado o nível SUDS zero no olho de ativação. Observou que, na maioria dos casos, estava presente uma ativação adicional e que seria necessário determinar um novo Brainspot neste olho secundário. Ocasionalmente o nível SUDS no “olho de recurso” saltou para 7, 8 ou 9 e demandou um tempo considerável de processamento até chegar a zero.


ESPREMER O LIMÃO


Outra observação feita pelo autor foi que um nível zero de SUDS não era um zero verdadeiro. Desenvolveu um procedimento que chamou “espremer o limão” no qual guiava o cliente, uma vez alcançado o zero, a "ir para dentro, e fazer o que fosse necessário” a fim de reativar o nível do SUDS. Em seguida, continuava o processamento até o zero no Brainspot original. Isto se repetia até que não se podia mais gerar a ativação. O processo de “espremer o limão” revelou que existia material ainda não processado, apesar de se ter alcançado o nível zero original. Esse aprofundamento através da técnica de “espremer o limão” também reduziu o número de ocasiões nas quais o efeito do processamento desaparecia nos dias seguintes à sessão do cliente, levando ao retorno da ativação.

Até agora o autor articulou três formas de localizar os Brainspots que são: Janela

Externa, Janela Interna e através do BSP de um só olho. As três restantes que se discutirão são BSP de Rolamento (Rolling BSP), BSP de eixo Z e BSP de Mirada (Gazespotting).

Falaremos sobre elas na sequência em que foram descobertas e desenvolvidas.


BRAINSPOTTING DE ROLAMENTO


O BSP de Rolamento (Rolling BSP) é uma forma versátil de utilizar os Brainspots de Janela Externa. Realiza-se de maneira semlhante a como se localizam e assinalam os Brainspots de Janela Externa inicialmente. Isso implica um acompanhamento ocular lento, seguindo o eixo horizontal, através do campo visual do cliente, parando em cada ponto onde se expressa um reflexo. Este procedimento, na Janela Externa, é utilizado para determinar um ponto onde os olhos ficarão fixados durante todo o processamento até que toda a ativação seja liberada. No BSP de Rolamento, o movimento de Brainspot a Brainspot continua durante todo o processamento até que se tenha conseguido descarregar. A quantidade de tempo que se detém em cada ponto reflexo pode variar de alguns minutos a uma pausa momentânea. Isso é determinado pela resposta do cliente e pelo propósito com que se utiliza esta técnica. Postula-se que, mediante o uso de BSP de Rolamento, o fluxo do movimento de Brainspot a Brainspot será mais ativo, integrador e completo. Ademais, alguns clientes parecem responder melhor ao BSP de Rolamento enquanto outros simplesmente o preferem. Embora a aplicação individual varie de terapeuta para terapeuta, e de cliente para cliente, o modelo tradicional de Brainspotting de Rolamento envolve, inicialmente, dedicar mais tempo a cada ponto (um a cinco minutos), e pouco a pouco ir diminuindo a quantidade de tempo à medida que o processo continua.

A teoria é que, no começo do processo, o objetivo é alcançar a maior profundidade de processamento, e que à medida que este prossegue, o objetivo passa a ser o aumento do movimento. Seguindo o modelo de sintonia dual, nada está predeterminado, e o papel do terapeuta é seguir o processo do cliente, e responder de acordo com a resposta que o cliente dá ao movimento de um ponto a outro, e às outras interações do terapeuta com o cliente. O BSP de Rolamento pode também ser utilizado como um método para completar as versões mais estáticas de BSP. Ele, às vezes, revela uma posição ocular que ainda apresenta certo nível de material não liberado e que pode ser mais completamente processado. Em outras ocasiões, o BSP de Rolamento serve para integrar e aprofundar o processo que se completou em outro Brainspot.


BRAINSPOTTING DE EIXO Z


O BSP do eixo Z traz a terceira dimensão de profundidade à localização das posições oculares. A Janela Interna primeiro explora o eixo horizontal, ou eixo X, seguido pelo eixo vertical ou Y, em busca do nível máximo de ativação ou recurso. Mas, a exploração da diferença entre perto e longe fica ainda por ser explorarada no Brainspot, depois que este tenha sido localizado. Observou-se que a maioria dos clientes apresentará maior ou menor ativação dependendo se olham a ponteira localizada de 120 a 180 centímetros na frente de seus olhos em contraposição a olhar através da ponteira até a parede do fundo, que pode estar a qualquer distancia além da ponteira. Frequentemente o ponto mais afastado no eixo Z tem menor ativação do que olhando mais perto para a ponteira. Talvez a percepção de que um objeto mais afastado gera menor ativação esteja baseada na experiência profundamente arraigada de que quanto mais longe o perigo, melhor. Mais especulativo ainda, é o fato de que quando um ponto mais longe gera maior ativação, o cliente pode ter questões de apego importantes, que desencadeiam a percepção de que o(a) cuidador(a) está mais fora do alcance. De qualquer maneira, o BSP de eixo Z é uma forma de separar a diferença entre a percepção de perto e longe em posições oculares que detém o nível mais alto ou mais baixo de ativação para o cliente. Observa-se que a qualidade, a profundidade e a intensidade são diferentes entre perto e longe, e nível mais alto e mais baixo de ativação. Ensina-se os alunos de BSP a começar o processamento com o ponto do eixo Z de menor ativação.

Por exemplo, se um cliente está processando um acidente de trânsito, pode ter um SUDS de oito ao olhar para um Brainspot de Janela Interna, e um SUDS de quatro ao olhar através da ponteira para a parede do fundo. Observou-se que o processamento durante cinco ou dez minutos na distância como o SUDS menor frequentemente resulta em um movimento mais rápido. Também se observou que quando, posteriormente, se volta para a distância de SUDs maior, o SUDs geralmente diminuiu, e o processamento continua com maior fluidez. Voltando ao exemplo do acidente de trânsito, após trabalhar no ponto afastado que se iniciou com um SUDs de quatro, quando se volta de novo ao ponto mais próximo, o SUDs pode ter diminuído de oito para cinco ou seis. Isso tende a conduzir a um processamento mais ativo do que se o ponto mais próximo fosse focalizado desde o princípio. Em seguida, continuar com o processamento no ponto mais próximo, durante cinco ou dez minutos, habitualmente diminui ainda mais o SUDs. Nesse momento, voltando sobre o eixo Z ao ponto afastado, frequentemente se observa que a ativação está diminuindo e se produz um movimento mais fluido. Este processamento para frente e para trás continua até que ambas as distâncias cheguem a uma descarga completa e à resolução do assunto original.

A escolha de BSP do eixo Z, ou, na realidade, a escolha de qualquer uma das seis modalidades de BSP, é determinada pela experimentação e pela experiência do terapeuta. Observou-se, em reiteradas ocasiões, que alguns clientes que respondiam muito pouco à Janela Interna mostravam um notável aumento no processamento afetivo, quando se incorporou o eixo Z. No exercício profissional, o autor observou que alguns clientes, muitas vezes aqueles com dissociação, alcançavam grandes avanços com o eixo Z que eram surpreendentes e não haviam sido alcançados com nenhuma outra forma de BSP.

BRAINSPOTTING DE MIRADA


O sexto tipo de BSP é o BSP de Mirada (Gazespotting). Esse enfoque faz uso da nossa tendência natural de olhar fixamente (em inglês “gaze”) diferentes pontos no nosso campo visual, quando falamos sobre questões que possuem carga emocional. Quando se observa, parece que o cliente está realmente falando para o ponto, sem se darem conta de seu comportamento. O autor, depois de cinco anos realizando BSP, tomou consciência deste fenômeno, e se perguntou o que ocorreria se os clientes continuassem olhando fixamente para esses pontos enquanto observavam seu processamento interno. Observou uma resposta que era tanto natural como única. Embora em geral resultasse menos ativador que a Janela Interna ou Externa, era potente e profunda. Esse método foi nomeado BSP de Mirada e foi institucionalizado como a sexta via para localizar posições oculares relevantes. É a única forma de BSP na qual o cliente escolhe seu próprio ponto de forma intuitiva e inconsciente. Salvo algumas exceções, tende a ser mais suave e recursado, em comparação com pontos mais ativadores. O BSP de Mirada também é uma boa introdução para novos clientes de BSP, já que não recorre à ponteira, nem ao processo de preparação que pode parecer estranho para o cliente que ainda não experimentou o poderoso efeito do BSP.


O FUTURO DO BRAINSPOTITNG


Olhando para o futuro, BSP é um modelo aberto, em rápida evolução. Quando este artigo for publicado é possível que novas aplicações possam estar sendo desenvolvidas. O sistema do corpo humano é tão infinitamente vasto e complexo que o fato de sintonizar com suas expressões conduziu sempre a novas descobertas e perspectivas. Como o BSP se encontra no seu sétimo ano, ainda está na infância e espera-se que amadureça e encontre seu lugar entre os muitos outros métodos de tratamento validados. Embora a maior parte do que se apresentou neste artigo tenha sido descoberta e desenvolvida pelo autor, o BSP recebe cada vez mais contribuições dos mais de 2.500 terapeutas já treinados em todo o mundo até o momento. Enquanto este artigo é escrito, se planejam e iniciam uma variedade de projetos de pesquisa. Isso inclui um estudo que faz uma comparação cruzada da efetividade do BSP em relação a outros métodos terapêuticos, um estudo de ressonância magnética funcional e uma investigação de observação da área da pupila. Na opinião do autor, as abrangentes investigações em curso são importantes não só para entender e validar o BSP, como também para compreender melhor os mecanismos interativos do olho e do cérebro. Concluindo, a força do BSP se verifica no modelo de sintonia dual que integra a sabedoria relacional dos anos de exercício profissional com os conhecimentos atuais e futuros sobre o cérebro e sua capacidade genial de auto-observação e autocura.



REFERÊNCIAS

Badenoch, B. (2008) Being a Brain-Wise Therapist: A Practical Guide to Interpersonal Neurobiology. Norton, New York.

Carter, R. (2009) The Human Brain Book. New York: DK Publishers.

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Grand, D. (2002) Treating survivors of the world trade center disaster with natural flow EMDR resourcing, EMDRIA Conference Lecture.

Grand, D. (2009) Brainspotting Phase One Training Manual

Grand, D. (2009) Brainspotting Phase Two Training Manual

Levine, P. (1997) Waking the Tiger. Berkeley, CA: North Atlantic Books.

Martinez-Conde, S. & Macknik, L. (2007) Windows on the mind. Scientific American, 5663, (August 2007).

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Schiffer, F. (1999) Of Two Minds. London: Simon & Schuster

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Wolpe, J. (1969) The Practice of Behavior Therapy. New York: Pergamon Press.


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Brainspotting, um novo modelo de sintonia dual para a psicoterapia - David Grand, Ph_D
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Série de textos com tradução autorizada pelo autor para a distribuição pela associação.



Autores:

Frank Corrigan, MD, FRCPsych | Psiquiatra | Argyll & Bute Hospital, Lochgilphead, Argyll,

UK PA31 8LD |and Manor Hall Centre for Trauma, Doune, Stirling, UK frank.corrigan@nhs.net

David Grand, PhD | Criador do Brainspotting

Consultório: 350 West 42nd Street, 17B | New York, New York 10036 dgrand1952@aol.com

traduzido por Patrícia Mattos e Cíntia Fuzikawa


Resumo


Brainspotting é uma psicoterapia baseada na observação de que a ativação corporal experienciada quando um evento traumático é descrito tem um ponto de ressonância no campo visual. Manter a atenção nesse Brainspot permite que o processamento do evento traumático flua até que a ativação corporal tenha sido liberada. Isso é facilitado por um terapeuta focado no cliente, e que monitora o processo com sintonia. Apresentamos hipóteses testáveis para essa inovação clínica no tratamento dos resíduos de experiências traumáticas. A hipótese primária é de que focar no Brainspot ativa uma via retinocolicular até o pulvinar medial, o córtex cingulado anterior e posterior, e o sulco intraparietal, que tem conexões com a ínsula. Se por um lado, a ligação entre memória, emoção e sensação física pode requerer interconexões parietais e frontais – e a resolução no córtex pré-frontal – sugerimos que a capacidade de curar o sentimento alterado sobre o self está ocorrendo no mesencéfalo, ao nível dos colículos e da substância cinzenta periaquedutal.


Introdução: Brainspotting como uma terapia para os transtornos pós-traumáticos


Brainspotting (BSP) é um avanço em psicoterapia que foi descoberto por David Grand [1] durante uma sessão de Natural Flow EMDR no qual são usados movimentos lentos dos olhos [2]. Quando os olhos de sua cliente oscilaram e se fixaram em um ponto, ele parou espontaneamente e esperou para ver o que aconteceria. A cliente então processou material traumático que não tinha estado acessível antes. Ele posteriormente observou isso em outros clientes e descobriu um padrão semelhante de processamento.


Se o episódio traumático que é alvo de processamento tem um foco visual proeminente - por exemplo, a arma do agressor ou um rosto cheio de ódio– é fácil entender como uma localização específica no campo visual pode estar ligada com a máxima ativação corporal durante a recordação. O que é mais difícil explicar é o achado de que episódios traumáticos sem um componente visual dominante, ainda assim apresentem um ponto no campo visual, ou Ponto Cerebral (Brainspot), que o indivíduo sente que corresponde precisamente à perturbação somática que emerge durante o recontar da narrativa traumática. É a ativação no corpo durante a recordação e o recontar do episódio traumático que tem ressonância com o Brainspot. Uma experiência emocional sentida como um chute no estômago ou como o coração se partindo pode não ter um correlato visual externo, mas ainda assim tem um Brainspot.


Essa é uma via original e importante para chegar até os resíduos corporais das experiências adversas e processá-los até uma resolução curativa. Neste artigo, tentamos explicar por que há uma localização que tem ressonância com a perturbação interoceptiva – e para a qual o olhar provoca uma ativação adicional. O local pode ser selecionado pela avaliação subjetiva do cliente (método da Janela Interna) ou pela observação de perturbação no movimento ocular num ponto específico, durante uma varredura lenta (método da Janela Externa). O Brainspot também pode ser selecionado quando o olhar do cliente se fixa em um ponto específico enquanto fala sobre material que causa ativação (Gazespotting ou Brainspotting de Mirada) [3].


Nossa hipótese é de que a orientação para uma informação complexa e com alta carga emocional, mesmo que não exija movimentos oculares dirigidos a um estímulo, ainda assim envolve a resposta de orientação básica do teto do mesencéfalo. Da mesma maneira que a dor social é baseada em avanços evolutivos dos sistemas necessários para a dor física [4], a orientação para a informação social é baseada em redes cerebrais originariamente empregadas para responder a estímulos visuais.


Nossa hipótese é de que a orientação adaptativa à informação de natureza perturbadora envolve uma hierarquia aninhada [5] localizada nos colículos superiores e em seus circuitos subcorticais que passam pelos gânglios da base, mas envolvendo também níveis mais altos no pulvinar talâmico; a amígdala e o hipocampo; o córtex sensorial; e o córtex cingulado posterior e anterior. Vogt e Laureys [6] descrevem seis estágios na sequência cortical de orientação, incluindo movimento ocular e da cabeça, até o córtex cingulado. Os campos visuais frontais e parietais do neocórtex também estão envolvidos. O sulco intraparietal é uma das ligações entre o mesencéfalo orientador e os comportamentos de orientação corticais e tem conexões com o córtex da ínsula para a ligação às sensações corporais.


A determinação de um Brainspot através da “Janela Externa”


Quando um cliente discute uma área de dificuldade emocional com profundidade suficiente para permitir que se foque na sensação corporal associada a ela, o terapeuta pede ao cliente para acompanhar com os olhos uma ponteira que é movida numa linha horizontal em frente aos olhos do cliente. O terapeuta pode então encontrar o Brainspot ao observar uma perturbação no olhar do cliente. Essa perturbação pode ser um piscar de olhos, então é útil olharmos os achados recentes sobre atividade cerebral relacionada ao piscar espontâneo. Usando a ressonância magnética funcional, Nakano et al. [7] observaram que o piscar estava associado a desativações nos campos visuais frontais e no lobo parietal superior, que são componentes da rede neural dorsal da atenção. As áreas cerebrais que controlam mudanças no olhar também controlam mudanças na atenção: essas áreas são os colículos superiores no mesencéfalo e os campos visuais frontais no córtex [8]. O piscar induziu a supressão da atividade nos colículos superiores, enquanto houve ativação no córtex cingulado anterior e posterior com o piscar espontâneo. Essas áreas cerebrais também são componentes importantes da resposta interoceptiva às memórias emocionais, como será descrito abaixo. Poder-se-ia argumentar que a perturbação da atenção focada durante o piscar permite a assimilação das experiências emocional e somática ao facilitar as funções emocional e de memória do córtex cingulado e do córtex da ínsula. Quando se observa o piscamento na técnica da Janela Externa, ele está captando a acentuação momentânea da experiência interna que ocorre depois da tendência natural de focar o olhar no que é relevante.


Padrões de olhar fixo não visual e memória: olhando para dentro enquanto se olha para fora

A ativação espontânea de movimentos oculares e olhares fixos durante a atividade mental sem componente visual tem sido amplamente estudada por Ehrlichman et al [9]. O movimento dos olhos durante a “pesquisa” na memória de longo prazo é seguido de uma fixação do olhar quando a informação é “localizada”. Isto é considerado análogo à procura de um estímulo relevante no ambiente e é baseado nas mesmas estruturas cerebrais. A atividade sacádica e a fixação do olhar estão conectadas com a memória através das regiões temporais mediais e das fibras eferentes dos gânglios da base para os colículos superiores. O foco numa memória, que seja suficiente para induzir uma ativação sustentada do lobo temporal medial, inibe o estriado, com o qual existe uma interação competitiva, e libera os neurônios de fixação do olhar nos colículos superiores.


Definindo o enquadramento

Assim como na Terapia Sensório-motora [10], Experiência Somática [11], Lifespan Integration [12] e, poder-se-ia argumentar, no EMDR [13], o enquadre do Brainspotting é baseado nas sensações corporais evocadas pela discussão da memória traumática. Essas são acessadas através da atenção consciente ao que se passa internamente durante o relato ao terapeuta sobre a natureza do problema apresentado. A ativação é avaliada cuidadosamente e o envolvimento da memória de trabalho com ela é intensificado através da medida desta ativação numa escala de 0-10.


Mindfulness Focado

A atenção do cliente ao processo interno recruta as regiões pré-frontais mediais para a observação de emoções, memórias, sensações corporais e cognições. A observação sustentada dos arquivos de informações que foram abertos na fase de preparação do Brainspotting permite que a mudança curativa aconteça. O Brainspot funciona como se fosse um marcador de página ou uma etiqueta no arquivo apropriado de informação. O terapeuta atento ajuda a manter esse foco interno ao verificar a natureza e a intensidade da ativação no corpo e ao permitir que ela seja processada internamente. Retorna-se repetidamente para a queixa apresentada até que nenhuma ativação no corpo esteja associada com o seu Brainspot – espreme-se o limão até que a última gota seja extraída. A cura é liberada, e não imposta, pela técnica. Quando o tempo permite, deixa-se que o processo ocorra até se completar e a mudança de estado torna-se o foco de atenção. A resolução do trauma é aceita com cuidado e paciência para que lhe seja dado tanto tempo quanto possível para reescrever as vias neuronais que estavam previamente profundamente fixadas em circuitos disfuncionais e mal-adaptativos.


Sintonia Dual


A diferença do Brainspotting em relação a outras formas de terapia verbal reside em sua habilidade singular em acessar de forma previsível os componentes da memória traumática no tronco cerebral durante a definição do enquadre. Outras terapias corporais são eficazes em um nível semelhante, mas a facilidade com que elas acessam o mesencéfalo depende de uma série de fatores não necessariamente integrada à modalidade de tratamento. O olhar fixo usado no Brainspotting (BSP) envolve imediatamente os colículos superiores no mesencéfalo e esse aspecto neurobiológico do Modelo de Sintonia Dual é especifico do BSP. Ele envolve a exploração procedural das posições oculares relevantes através da Janela Externa, Janela Interna e do Brainspotting de Mirada. Em outras palavras, o terapeuta de BSP está se sintonizando com a neurobiologia do cliente, ao notar em quais posições oculares o cliente manifesta atividade reflexa aumentada e sustentada (Janela Externa), ao localizar juntamente com o cliente as posições oculares onde o cliente “sente isso mais forte” (Janela Interna), e ao notar as posições oculares que o cliente identifica espontaneamente, de acordo com o local onde fixa o olhar quando fala sobre seu material emocional (Brainspotting de Mirada). Quando um desses três Brainspots é determinado, o cliente é orientado a manter o olhar nesse ponto ou na ponteira indicadora e observar atentamente, sem julgamentos, a sua experiência interna ao longo do tempo (mindfulness focado). O terapeuta está em sintonia com a conexão neurobiológica do cliente ao material emocional acessado por meio do Brainspot, primariamente ao nível do tronco cerebral.


O olhar do terapeuta tem um efeito sobre as estruturas corticais e subcorticais do cliente. A resposta da ínsula anterior direita a ser olhado de modo não ameaçador [14] pode ajudar o cliente a manter o foco nas sensações corporais ligadas ao Brainspot. Ainda que esse olhar não seja estritamente mútuo– quando o terapeuta está olhando para o cliente focado no

Brainspot – a consciência do cliente em relação ao olhar do terapeuta deve acentuar a resposta insular à delimitação do enquadre. Além disso, a duração prolongada do olhar direto estimula o córtex cingulado anterior e o córtex pré-frontal ventromedial da pessoa que está sendo observada [15]. Então, quando o olhar do terapeuta se mantém diretamente na direção do rosto do cliente que está focado no Brainspot, existe um aumento da ativação pré-frontal medial do cliente através da atenção consciente e sem julgamentos ao processamento. Ser olhado enquanto se está fixado visualmente no Brainspot é amplificar os circuitos enquadrados através da insula e amplificar a atenção pré-frontal medial ao material emergente. Isto promove organização e integração através da coalescência dos arquivos de informação separados até então.


O outro aspecto da sintonia dual é menos específico do Brainspotting. Esta é a sintonia relacional de prestar atenção e acompanhar a experiência do cliente, captando as comunicações verbais e não verbais. A sintonia relacional inclui as interações somáticas e inconscientes entre o terapeuta e o cliente. Isto promove o mindfulness focado em todos os sistemas cerebrais ativados, enquanto o olhar sustentado mantém o “marcador de página” no tronco cerebral. Todos os processos superiores são modificados enquanto estão sendo mantidos sob a influência focada do marcador de página neuronal. Adiantamos que a sintonia relacional irá envolver uma hierarquia aninhada separada, situada na substância cinzenta periaquedutal (SCP) do mesencéfalo, mas com um nível superior no córtex préfrontal ventromedial.


Orientação e orientação adaptativa


Um Brainspot é uma orientação óculo-motora armazenada, de uma experiência traumática que não foi integrada. Quando ele é acessado no tratamento, existe um potencial para maior cura dos resíduos emocionais do evento não assimilado. O conceito de orientação – uma resposta óculo-motora a um estímulo/evento específico no espaço externo – foi expandido com relação ao trauma por Levine [11] e Ogden et al [10]. Para evitar confusão com a resposta de orientação básica, vamos nos referir à sequência completa descrita por Ogden et al. [10]: excitação, suspensão de atividade, alerta sensorial, ajustes musculares, varredura, localização no espaço, identificação, avaliação, tomada de ação e reorganização - como orientação adaptativa. Quando não se consegue completar a sequência inteira no momento do trauma, alguns componentes ficam sem resolução e sujeitos a ocorrer novamente quando houver um disparador. Existe um truncamento da orientação adaptativa que tem efeitos clínicos significativos. A memória resultante, de valência negativa, é armazenada com a ativação fisiológica que não foi descarregada. Acessar o Brainspot de modo cauteloso e atento e sem julgamento, permite que a ativação seja processada até o fim.


Estímulos externos são detectados nos sistemas sensoriais e podem levar a reações motoras, reações afetivas e lembranças dentro de uma escala de tempo de milissegundos. A primeira resposta ou a resposta mais intensa de orientação dos olhos aos estímulos externos pode criar o Brainspot para que a elaboração subsequente de emoções, pensamentos e impulsos comportamentais se agregue em torno dele. Por outro lado, pode não haver nenhuma ligação óculo-motora com algum evento, mas o olhar associado com a lembrança do trauma adquiriu uma direção particular através das influências corticais topdown. Um choque que surge de um processamento mais cortical de informação que chega, por exemplo, a notícia de uma morte súbita, carrega uma orientação específica à medida que o olho interno se volta para o significado da mensagem.


A orientação para uma ameaça externa ou um evento traumático se inicia nos colículos superiores (CS) no mesencéfalo. Os CS recebem informações diretamente da retina, mas também dos campos visuais frontais (CVF), dos campos visuais suplementares, e da área intraparietal lateral (AIL) ou do sulco intraparietal (SIP). Os colículos superiores detectam mudança de luminosidade no ambiente externo e (com a ajuda dos gânglios da base e do cerebelo) dirigem os movimentos em direção a ou afastando-se do estímulo – dependendo das características físicas e/ou associações. Os colículos superiores são os que respondem primeiro na orientação, mas essa orientação não está necessariamente associada a uma carga emocional: uma resposta afetiva é uma das consequências apenas de determinados tipos de ativação dos CS – movimentos de aproximação como os de cobras e aranhas (Redgrave, comunicação pessoal).


O sulco intraparietal (SIP) tem as conexões com as áreas de memória do córtex cingulado posterior, o que nos leva a favorecer o eixo SIP-CS para o efeito integrador do Brainspotting.

O Brainspotting combina a lembrança emocional ativada, seu impacto no self e a orientação óculo-motora que se tornou associada com aquela lembrança.


Circuitos Interoceptivos


Durante a preparação do enquadre no Brainspotting, pede-se que o cliente descreva o problema apresentado e então perceba o nível de ativação em seu corpo. Isto é semelhante à prática da Psicoterapia Sensório-motora [10], na qual a resposta corporal durante a descrição do problema torna-se o ponto de partida para a intervenção terapêutica. No Brainspotting e na Psicoterapia Sensório-motora (PS) não há a necessidade de obter todos os detalhes da narrativa, ou extrair todas as cognições negativas associadas, se existir ativação corporal suficiente para abrir o arquivo de informação que precisa ser solucionado. Na PS, o terapeuta está ativamente engajado em espelhar movimentos que o cliente faz, em fazer contato através de falas e em ajudar o cliente a encontrar a ação que leve à resolução, talvez através da conclusão de uma resposta de defesa interrompida. No Brainspotting, não é necessário explorar os impulsos para a ação, mas apenas observá-los com as sensações associadas, enquanto o processamento de informação caminha para a resolução. O desenvolvimento do Brainspotting foi influenciado pelo trabalho da Experiência Somática de Peter Levine [11] no qual os resíduos energéticos das experiências traumáticas são acessados e descarregados. Todas estas abordagens são baseadas na observação clínica de que existe um processo natural que, se liberado, levará à cura. No Brainspotting o terapeuta dedica-se a estar presente de maneira empática e mindful, enquanto o processo de cura do cliente caminha para a resolução durante o período de fixação do olhar.


A consciência das sensações somáticas, emoções e dos impulsos à ação que acompanham a narrativa do trauma envolve os circuitos interoceptivos que passam pelo córtex anterior da ínsula. As sensações corporais são transmitidas ao córtex pelos tratos espinotalâmicos que se originam na medula, e no núcleo do trato solitário [16]. No tálamo, ocorre uma divisão, com projeções para o córtex anterior do cíngulo, que fornecem um impulso, enquanto as projeções para a ínsula fazem emergir a sensação emocional. O sentimento se torna mais diferenciado à medida que a informação passa através da parte posterior para a parte anterior da ínsula e assim contribui para o cerne do “self autoconsciente” [17]. A informação sensorial e visceral integrada na rede sensorial do córtex pré-frontal órbito-medial se dirige para a rede medial ou víscero-motora de onde há projeções para as áreas geradoras de emoções do hipotálamo e da substancia cinza periaquedutal (SCP) [18]. Estas estruturas influenciam os núcleos do sistema nervoso autônomo no tronco cerebral para produzir alterações corporais que são informadas ao córtex através dos tratos espinotalâmicos. Esse circuito interoceptivo tem a ínsula anterior como o local da consciência visceral e emocional. A pergunta, “O que você sente no seu corpo quando você me conta sobre esse trauma?” envolve necessariamente a ativação da ínsula.


O ponto de interação desse circuito interoceptivo com os circuitos de memória autobiográfica episódica através de áreas hipocampais e do cíngulo posterior está no córtex pré-frontal ventromedial [19]. Esta região víscero-motora [20] está implicada na ação clínica do estímulo bilateral usado no EMDR [21]. O protocolo de Brainspotting inclui o estímulo auditivo bilateral alternado e um terapeuta empático para acentuar o ramo ínsula-CPFVM do circuito interoceptivo que envia projeções para hipotálamo, mesencéfalo e estriado ventral. Existem também projeções da ínsula para o hipocampo e polo temporal, mas a interconexão com a amígdala basolateral [22] é provavelmente mais relevante para os componentes somáticos da memória emocional. A ínsula também tem conexões com o sulco intraparietal [23], formando o circuito que conecta o olhar fixo às sensações corporais.


Há uma grande via sensorial para a SCP mesencefálica que pode levar informações sobre os componentes viscerais das reações emocionais a experiências traumáticas e sobre o tipo de dor profunda associada à perda. A SCP também está envolvida na geração dessas respostas emocionais. A SCP e os colículos estão extensamente interconectados, então é possível que o Brainspot esteja trazendo a sensação precisa registrada na SCP mesencefálica, para ser tratada – mesmo que uma versão atenuada chegue à ínsula através dos tratos espinotalâmicos.


Orientação e Fixação do Olhar


Objetos que aparecem repentinamente atraem a atenção e induzem um movimento sacádico, um movimento rápido dos olhos em direção a eles [25]. Esse movimento sacádico de orientação pode ser seguido por uma fixação do olhar no eixo visual da fóvea retiniana, através do ponto focal óptico, em direção ao objeto que está sendo olhado [26]. Os neurônios de fixação dos colículos se tornam mais ativos quando eles alcançam o ponto de fixação [27] e os movimentos microssacádicos previnem a perda da visão através da habituação [28]. Isto permite a tomada máxima de informação sobre o objeto que pode ser uma ameaça súbita. Tanto os movimentos sacádicos quanto a fixação visual se iniciam nos colículos superiores (CS) [29]. Os CS recebem projeções diretamente da retina e enviam projeções para os núcleos do tronco cerebral e para a medula, através de tratos tetoespinhais, para iniciar os movimentos de cabeça e dos olhos e o deslocamento do olhar. Eles contribuem para os movimentos de orientação tridimensional da cabeça e dos olhos [30]. Os CS contêm um mapa que é topograficamente organizado de acordo com as coordenadas da retina, e este é alinhado ao longo do desenvolvimento com um mapa sensorial com informação espacial e um mapa óculo-motor para a localização precisa do olhar [31]. As camadas superficiais dos CS se projetam para camadas mais profundas, onde a integração sensorial multimodal é traduzida em resposta motora [32]. Essa conexão entre superficial e profunda também é vista em estudos post mortem do cérebro humano [33]. Os CS são responsáveis pela orientação em relação a estímulos olfatórios, bem como visuais, auditivos e somatossensoriais [34].


No córtex do gato, o giro posterior do cíngulo está ativo durante o estímulo visual e durante os movimentos oculares sacádicos [35]. Nos macacos, pode ser que os neurônios do cíngulo posterior que estão ativos durante a fixação do olhar estejam levando informação sobre o ângulo do olho na órbita para orientação espacial [36]. A posição do olho na órbita em relação à cabeça no espaço está sendo monitorada ao invés de controlada pelo córtex do cíngulo posterior [36]. As áreas corticais com a atividade óculo-motora e com ligações diretas ao córtex do cíngulo posterior incluem o sulco intraparietal. Uma rede que circunda o SIP, incluindo o precúneo, cíngulo posterior, córtex retroesplenial e córtex parahipocampal [37] medeia o controle dos movimentos oculares em resposta à saliência no campo visual e à volição. A fixação do olhar, portanto, ativa o sulco intraparietal e o córtex do cíngulo posterior.


Circuitos subcorticais passando pelos colículos superiores


A entrada do estímulo sensorial nos colículos superiores ativa, via tálamo, o estriado, que se projeta de volta aos CS através da substância negra. A parte reticulada da substância negra mantém um controle inibitório sobre os colículos superiores. Por outro lado, as áreas corticais se projetam diretamente ao estriado e voltam para o córtex via substância negra e tálamo. É possível que eventos complexos possam ter muitos circuitos diferentes, separados, associados a eles. O fato de os circuitos se integrarem ou permanecerem separados pode dar margem a conflito entre os componentes cognitivo, emocional e somático de uma experiência lembrada. A seleção de qual circuito é desinibido para permitir a ação ocorre nos gânglios da base, mas pode ser influenciada em todos os pontos de relé mais importantes do circuito, pela atividade na amígdala basolateral, quando uma resposta de medo é disparada.


Projeções corticais aos colículos: os sistemas córtico-tectais


Nos macacos, existem dois sistemas córtico-tectais distintos [38]. Um sistema é baseado na informação visual enviada da retina para as camadas superficiais dos colículos superiores e envolve principalmente áreas do córtex visual. Por outro lado, o componente visuo-motor se projeta a camadas profundas dos colículos superiores de áreas do córtex frontal e parietal e medeia a fixação do olhar, os movimentos sacádicos e a coordenação dos movimentos da cabeça dos olhos durante a orientação. No ser humano, o sulco intraparietal (SIP), equivalente à área intraparietal lateral (IPL) nos macacos, pode inibir os CS quando existe um conflito entre a atração dos olhos para determinado estímulo e a necessidade de dirigir o olhar para outro lugar [39]. Movimentos sacádicos voluntários ou intencionais em humanos dependem muito do sulco intraparietal [39]. Uma representação topográfica relevante dentro do SIP faz com que esta área parietal esteja envolvida na resposta à solicitação: “Diga-me qual ponto do seu campo visual corresponde melhor ao que você sente no seu corpo quando seus olhos seguem a ponteira”. Um dos achados notáveis do Brainspotting é o sentimento subjetivo preciso em relação a qual local ressoa com a aquela determinada ativação. Frequentemente ocorre um aumento objetivo do desconforto num ponto específico.

Núcleos talâmicos entre os colículos superiores e córtex cingulado


Existem projeções retinianas diretamente para os núcleos do tálamo: aqui iremos focar naquelas com maior conexão límbica. Os colículos superiores estão conectados com o pulvinar medial e os núcleos intralaminares. O pulvinar medial recebe aferências das camadas profundas dos colículos superiores e se projeta para áreas dos córtices cingulados anterior e posterior. Existem também aferências para os núcleos intralaminares das camadas intermediárias e profundas dos CS, especialmente dos neurônios somatossensoriais [40]. Os núcleos intralaminares estão envolvidos na orientação e na integração sensório-motora; e suas aferências da formação reticular do tronco cerebral e do tegmento mesopontino colinérgico contribuem para a ativação do manto tálamo-cortical. Os núcleos intralaminares se conectam com todas as partes do córtex cingulado enquanto o pulvinar medial tem projeções específicas para as áreas anteriores 32 e 25 e áreas do cingulado posterior 23 (ventral), 29 e 30 [41]. Os núcleos intralaminares recebem projeções do córtex cingulado anterior, área 24, enquanto o pulvinar medial recebe do cingulado posterior, área 23 [40]. Assim, o pulvinar medial está interconectado com as áreas do cíngulo anterior envolvidas no processamento emocional e com a área do cíngulo posterior na qual a informação multissensorial é codificada quanto à autorrelevância. O pulvinar medial também influencia o córtex pré-frontal, os lobos parietais inferior e superior, córtex insular e giro para-hipocampal. Ele tem uma projeção distinta para o SIP.


Uma hierarquia aninhada situada no teto do mesencéfalo?


As camadas profundas dos colículos superiores recebem informações de outras modalidades sensoriais e suas representações corticais. Estudos de RMN funcional sobre a integração entre diferente modalidades sensoriais em humanos sugerem que os colículos superiores constituem a região mais significativa para essa função, enquanto o sulco intraparietal tem uma capacidade integrativa mais fraca [42]. Quando a conectividade dos colículos superiores em macacos é estudada por microestimulação dos colículos durante a RNM funcional, várias áreas do córtex visual são ativadas, além dos campos visuais frontal e parietal. Contudo ocorrem também mudanças no córtex somatossensorial, córtex auditivo primário, córtex motor primário, córtex cingulado anterior e córtex cingulado posterior [43]. O córtex cingulado anterior é parte do circuito interoceptivo e o córtex cingulado posterior contribui para as memórias autorrelacionadas que têm um componente emocional – e ambos recebem projeções do pulvinar medial. A estimulação dos colículos superiores é seguida de atividade nas áreas cerebrais envolvidas na memória autobiográfica e na atenção focada nessas memórias.


A parte anterior do sulco intraparietal é parte de uma rede dorso-fronto-parietal para avaliar a relevância de um estímulo [44] e pode dirigir a atenção para um estímulo, mesmo na ausência dos movimentos oculares (orientação encoberta). A parte posterior do sulco intraparietal pode estar mais envolvida com os movimentos dos olhos durante a orientação não encoberta. No Brainspotting, a ligação da posição do olho com o que é relevante no campo atencional requer as subregiões anterior e posterior do sulco intraparietal.


O giro cingulado posterior: ligando sensação e memória


A área 23 do cingulado posterior tem conexões recíprocas com o córtex retrosplenial para a memória de longo prazo, e transfere informações sobre movimentos da cabeça e dos olhos para a área motora do cingulado caudal [6]. Depois de um movimento sacádico, a codificação da posição ocular na órbita depende de informações do parietal posterior para o córtex do cingulado posterior. Portanto, o mecanismo para a ligação da fixação do olhar com os circuitos de memória está disponível nessas interações cíngulo-parietais.


Vogt e Laureys (2009) propõem um modelo de processamento em 6 estágios. O estágio 1 envolve o córtex cingulado ventroposterior (CCP) para extrair informação autorrelevante das informações multissensoriais que chegam, em parte através de conexões com o córtex cingulado anterior subgenual. O estágio 2 relaciona essas informações a memórias via córtex retroesplenial. No estágio 3 as informações para o CCP dorsal vindas do CCP ventral e córtex parietal oferecem informação sobre a orientação do corpo – e do self – no espaço. A área motora do cingulado caudal está ativa no estágio 4 e orienta a cabeça e corpo através de projeções para a medula. O estágio 5 envolve comportamentos intencionais. O estágio 6 transforma a informação recebida e processada em respostas autonômicas e comportamentais apropriadas através de projeções ao mesencéfalo e hipotálamo. Esses seis estágios abrangem muitas das características da orientação adaptativa que são alteradas pelo trauma.


Imagens relacionadas à lembrança


Trazer uma lembrança perturbadora à mente ativa circuitos de memória autobiográfica que se estabeleceram através do impacto emocional dos eventos. A amígdala basolateral envia informações para muitas áreas importantes para o registro de eventos de vida emocionalmente carregados, tais como córtex pré-frontal ventromedial, córtex do cingulado posterior e áreas hipocampal e para-hipocampal. Ela também está conectada reciprocamente com a ínsula [22]. No Brainspotting, assim como na psicoterapia sensóriomotora, o processamento é realizado primariamente no corpo em vez de nos pensamentos e sentimentos.


O olho da mente com o qual perdas e eventos traumáticos podem ser “vistos” depende do precúneo, uma estrutura parietal medial, que recebe informações do córtex visual. O precúneo é ativado durante a visualização de imagens associadas à lembrança [45]. Nos macacos, o precúneo está conectado com outras partes do córtex medial posterior, especialmente áreas corticais do cingulado posterior [46]. Não existem projeções significantes do precúneo ao teto do mesencéfalo. Contudo o precúneo tem conexões com o giro angular e através dele, com o sulco intraparietal [23].


O precúneo pode ser dividido em 3 partes: regiões posterior visual, central associativa e anterior sensório-motora [47]. A porção posterior visual pode ter uma zona de transição com as regiões envolvidas com a memória. Caso contrário, o precúneo precisa ter coativações criadas durante a localização do Brainspot para incluir a carga emocional. É possível que a fixação do olhar no Brainspot reduza o envolvimento do precúneo à medida que o processamento ocorre através de canais interoceptivos. As imagens visuais não são necessariamente proeminentes durante a resolução do evento traumático.


A interocepção e o olhar


O passo que falta na argumentação até esse ponto é estabelecer vias neuronais para conectar a consciência das sensações corporais e o ponto no campo visual. A consciência das emoções e as sensações corporais associadas a elas, ao contar um episódio traumático, depende da ínsula anterior, mas não parece haver nenhuma conexão significativa entre a ínsula e os colículos superiores. Por outro lado, o sulco intraparietal tem uma região anterior (hlP1)que está funcionalmente conectada à insula [23]. Essa parte do sulco intraparietal está fortemente conectada com o giro angular, que sua vez está ligado ao córtex pré-frontal medial, hipocampo e giro para-hipocampal, precúneo, polos occipitais, e aos córtex cingulado anterior e posterior. É evidente que essas áreas parietais têm as conexões necessárias para ligar as sensações corporais, consciência emocional, memória autobiográfica - e direção do olhar.


Curando as feridas profundas do self mesencefálico


Abordagens psicoterápicas voltadas para a redução de sintomas e de custos usam técnicas verbais e checklists em um nível que tem pouco impacto nos sentimentos centrais sobre o self. Embora ainda tenha que ser avaliada de maneira formal, a experiência clínica sugere que o Brainspotting é efetivo em um nível mais profundo da psique – nível cujos correlatos neurológicos estão no mesencéfalo. Damasio defendeu a primazia do núcleo do trato solitário (NTS) e do núcleo parabraquial (NPB) para sensações fundamentais de dor e prazer.


Esses núcleos recebem informações completas sobre o estado interno do corpo, e estão conectados entre si e com a SCP. As informações sensoriais são interpretadas pelos colículos superiores, mas as sensações corporais são transmitidas através desses dois núcleos – o NTS e NPB. Os colículos integram a informação de uma maneira que permite a ação efetiva, através das informações que transmitem para o tronco cerebral, medula, tálamo e córtex. Damasio propõe que os primórdios da mente e os primórdios do self podem ser encontrados nos CS.


Outro ponto de vista é de que os CS são simplesmente uma máquina de orientação que pode informar áreas relevantes do cérebro sobre a ocorrência de um evento externo biologicamente significativo e, com conexões para e do cerebelo, podem resolver o problema da transformação espacial-para-temporal; a topografia retiniana é espacial; o controle da métrica da orientação é temporal (Redgrave, maio 2012, comunicação pessoal).


Panksepp [49] tem posição diferente, pois enfatiza as coordenadas motoras subjacentes à representação do self. Ele as coloca em uma área entre os campos somatossensoriais dos colículos superiores e as capacidades integrativas e geradoras de emoção da SCP. O impulso a agir é considerado mais importante para a definição de self do que o impacto da experiência sensorial. “Eu ajo e sinto, portanto eu sou” (49, p.203). Em termos dos CS, o impulso básico à ação seria a orientação de aproximação ou de afastamento. O self seria definido através de respostas de orientação a estímulos sensoriais em vez de simplesmente através da experiência das sensações. Eu me oriento me aproximando ou me afastando – portanto eu sinto quem e o que sou. A cura fundamental das feridas profundas do self só ocorrerá quando o tratamento agir no nível mesencefálico. Fizemos referência à possibilidade de que muita da resposta emocional a um evento é gerada na SCP e o feedback sobre mudanças viscerais é dirigido da medula para a SCP. A SCP e os CS estão extensamente interconectados, tornando possível que muito da cura esteja ocorrendo nesse nível – mesmo que a consciência das mudanças seja registrada nos níveis corticais superiores.


Esse self é elaborado através de camadas cada vez mais complexas nos sistemas subcorticalcortical na região da linha média [50, 51], mas a valência mais profunda será estabelecida ao nível do mesencéfalo, que gera as emoções, regula o sistema autonômico e é responsável pela orientação. Quando a consciência é dividida nas formas anoética, noética e autonoética [52], presume-se que, no ser humano, seja a mente autonoética, que conhece o self ao longo do tempo, que precisa ser engajada na terapia. Se a consciência anoética não inclui somente uma consciência simples dos estímulos externos, mas também memórias de impulsos à ação, adaptações autonômicas e respostas emocionais a eventos, então o tratamento precisa incluir essas áreas, para que seja efetiva ao máximo. Os correlatos neurais do self se estendem do mesencéfalo, através de estruturas subcorticais na região da linha média, como o núcleo accumbens, através do córtex pré-frontal medial, até o córtex póstero-medial.


Intervenções psicoterápicas podem ser feitas em quaisquer desses níveis, mas a cura duradoura e fundamental ocorrerá após a resolução mesencefálica. O poder do Brainspotting é sua habilidade de partir de eventos na consciência autonoética no nível cortical e integrar, com técnicas que permitem que a cura aconteça do nível mais básico do self¸ no ponto central da hierarquia tectal, na base dos sistemas de self do mesencéfalo.


Brainspotting: uma hipótese neurobiológica






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Inés Arregui

traduzido por Carla Maranhão




INTRODUÇÃO


"Terapeutas iniciantes precisam tomar cuidado [...] com a tentação em terminar uma sessão com algum golpe de mestre terapêutico que demonstrará quão sábios e perspicazes eles são."

Moursund & Erskine, 2003 (p. 142)


Aquele foi o meu primeiro erro, ou pelo menos o primeiro que eu detectei até agora. Minha primeira e única paciente chegou muito agitada à nossa segunda sessão porque seu filho se recusou a sair com ela de férias. Ela não queria deixá-lo sozinho em casa durante alguns meses, tinha ameaçado suicidar-se. Havia muito em jogo: por um lado me doía ver aquela mulher tão angustiada, me sentia responsável pelos atos de seu filho – com vinte anos que só havia visto em fotos - e também queria impressioná-la para que voltasse à terapia em setembro. Quando terminou de falar, não soube o que dizer. Na realidade, havia estado tão imersa em meus próprios problemas que não havia prestado muita atenção. Minha paciente se despediu murmurando que ninguém podia fazer nada por ela. Aquela foi a última vez que a vi. Eu me senti impotente. Pensei que precisava aprender mais técnicas para encobrir a minha falta de experiência. Me inscrevi no workshop de Brainspotting dado por David Grand.

O CLIENTE TEM RECURSOS


"O cliente é responsável: o cliente decide o quão longe ele ou ela está disposto a ir no processo de exploração".

Erskine, Moursund & Trautmann, 1999 (p.29)

No meu primeiro treino como paciente no workshop de BSP, apresentei um problema com o qual eu me sentia perdida e desamparada. Eu não sabia como resolver. Em seu papel como terapeuta, minha parceira se limitou a aplicar o que David havia nos ensinado, me dando instruções que me mantivessem em contato com as sensações do meu corpo. Novos pensamentos vieram à minha mente e eu senti emoções que poucas vezes havia experimentado. As minhas expectativas não foram cumpridas: a prática terminou sem encontrar uma solução satisfatória. No entanto, eu achei que tudo estava no seu lugar e que o processo tinha transcorrido da melhor forma possível. Esta nova atitude de aceitação me fez intuir que ainda não havia podido encontrar uma solução porque eu não estava preparada para isso. Na verdade, essa descoberta era mais do que as palavras de David refletidas na experiência, mas precisei de um tempo para entender seu verdadeiro significado. Até o momento, a premissa da AT de que cada pessoa é OK, me parecia uma utopia, uma ideia que eu tinha que aceitar porque dava um toque decorativo à teoria. Ao realizar o primeiro treino, me dei conta que o paciente tinha muito mais poder do que eu pensava, o que equivalia a aceitar que eu, como um terapeuta, tinha menos poder do que tinha sonhado.

O PACIENTE COMO RESPONSÁVEL PELO SEU PROCESSO/HUMILDADE.


"A humildade é o oposto de "Eu sei mais." Humildade neutraliza a certeza, a expressão de uma atitude de "Eu tenho o monopólio da verdade." A humildade é o oposto de "Eu sei o que é real." Se formos menos certos da verdade, ou do caminho certo, ou realidade, então vamos permitir que a outra pessoa nos influencie."

Erskine, 2007

Considerar os pacientes como pessoas vulneráveis é trabalhar com um só lado da moeda. Eles têm o problema, mas também a solução. Me perguntei o que aconteceria se na próxima prática eu deixasse mais responsabilidade para o paciente. Ao sentar-me frente a Berta (nome fictício) optei por concentrar a minha energia para conter minha ânsia em realizar uma intervenção perfeita. A escutei lembrar uma cena da infância e contar como seus familiares e colegas de classe a maltrataram. A raiva ferveu dentro de mim e minha nova atitude de calma começou a me incomodar. Pensei que Berta me veria como uma terapeuta fria e desprovida de sentimentos se não lhe mostrasse a minha raiva. Estive a ponto de incentivá-la a se defender, mas me contive em estar lá enquanto ela contava, conformando-me de como foi difícil se identificar com essa menina abusada. Após concluir nosso trabalho me elogiou: sentia-se mais confortável comigo do que nas outras vezes em que o terapeuta tinha insistido em dizer-lhe o que fazer e sentir. Eu havia vivenciado como uma pessoa interessada e respeitosa. Ao mesmo tempo, a minha renuncia em controlar o processo levou-me à mergulhar na experiência que ela estava experimentando. Talvez parte do meu desconforto veio da minha capacidade de sentir sua impotência e também da irritação vivida por ela e não se encaixava com a imagem idealizada que tinha dos terapeutas. Eu estava furiosa por não reagir contra o abuso. Por que ela ainda estava aguentando? Não tinha sentido.

NÃO É UMA LOUCURA, APENAS PARECE

"Não importa quão doloroso ou estranho o seu comportamento possa parecer, este comportamento deve ser entendido como a resposta de uma pessoa essencialmente boa e competente para um mundo confuso e ameaçador."

Moursund & Erskine, 2003 (p. 164)

"Só parece loucura", disse David Grand para uma participante do workshop que tinha feito uma demonstração voluntária e que se sentia irritada pela sua incapacidade de controlar uma atitude que lhe parecia irracional, “mas à sua maneira tem um sentido, mesmo que ainda não tenhamos chegado a ele.” David Grand compara o processo terapêutico a uma grande onda, igualando o terapeuta a um surfista, cuja tarefa não é controlar, mas manter-se equilibrado sobre a onda. Assim como parece ilógico o surfista querer dirigir as ondas, não faz sentido que o terapeuta queira direcionar as sensações corporais de seu paciente durante uma sessão de Brainspotting. Apesar de entender o que David queria dizer e o seu raciocínio me parecia lógico, continuava frustrada pela forma que se desenvolveu o processo de Berta. Para mim, se algo parecia uma loucura, obrigatoriamente teria que ser.

CONFIANÇA: Ao final as peças se encaixam


"Otimismo inclui a fé no inerente "tudo bem" da vida e das pessoas: a fé de que as pessoas tomam boas decisões por si mesmas, a fé nas escolhas que as pessoas fazem, a fé em um benefício comum se todos nós trabalharmos em conjunto e respeitarmos as necessidades de cada um."

Erskine, 2007

O que eu não sabia era que o meu trabalho com Berta não havia terminado onde paramos. No dia seguinte, me contou que mal tinha dormido durante a noite, que no meio de sua agitação, por volta das 3 horas da manhã, veio um novo pensamento. "Me dei conta que não quero continuar sendo uma boa menina", me disse. Finalmente, ela projetou a raiva que eu havia sentido borbulhar dentro de mim ao fazer a prática. Se eu tivesse cedido ao meu desejo de incentivá-la a defender-se, provavelmente teria se sentido violada e se fecharia. Ao ouvir Berta falar, me alegrei em ter confiado na sua capacidade de realizar o processo. De repente, o comentário de David de que somente parecia loucura, fazia sentido. Me dei conta da importância de confiar nos pacientes e em seus recursos. Esta confiança me impediu de ceder à minha própria ansiedade e dar um passo em falso como terapeuta. Ao mesmo tempo, contribuiu para que Berta se sentisse aceita e respeitada.

PRIORIDADE DO CONTATO DO CLIENTE CONSIGO MESMO

Um questionamento eficaz é trabalhado de modo a aumentar a autodescoberta do cliente; o que o terapeuta aprende é secundário [...] o objetivo das perguntas é ampliar o contato do cliente com seu self e de outros.”

Moursund & Erskine, 2003 (p. 123)

Se o paciente realmente tem a resposta e se a atitude do terapeuta consiste em confiar no processo iniciado pelo seu paciente, então a missão do terapeuta passa a ser de cuidar para que o paciente mantenha o contato consigo mesmo. Em BSP, as intervenções dos terapeutas objetivam manter o contato da pessoa com as sensações que surgem em seu corpo. O terapeuta se ocupa em instaurar o marco mas o conteúdo é colocado pelo paciente. Desse jeito, minhas intervenções, antes de me ajudarem a compreender, vão facilitar a conexão da pessoa consigo mesma, como me comentou Mario Salvador em nossas primeiras supervisões (agora o entendo). O próprio David admitiu que nem sempre compreendia o que acontecia dentro dos seus pacientes quando rastreava suas sensações, mas não considerava aquilo como um obstáculo para um bom desenvolvimento da terapia. Daí a importância em aceitar que alguma coisas seguirão sendo um mistério e renunciar à explicação de tudo. Às vezes potencializar o contato do paciente consigo mesmo implicar ter cuidado em não interferir no seu processo. Me refiro à importância da linguagem. Em alguns casos o terapeuta pode condicionar ou restringir o paciente na hora de dar as instruções. Perguntar o que sente o limita ao campo das emoções. É mais adequado perguntar sobre o que experimenta ou o que surge em cada momento.

OBSERVAR COM CURIOSIDADE


"Quem é o cliente sentado a minha a frente? Quem é o colega com quem estou falando? Quem são essas pessoas com aparência envelhecida, moradores de rua, que encontro? [...] Eu tento colocar-me como um vaso vazio, para ser preenchido pela perspectiva fenomenológica do cliente."

Erskine, 1999

Como a prioridade é fazer com que o cliente mantenha o contato consigo mesmo, então a responsabilidade do terapeuta é deixar de lado suas expectativas. A melhor coisa para isso é observar o paciente com curiosidade. Quem é essa pessoa? O que me diz? É semelhante a um filme no cinema: pode-se fazer suposições sobre o que vai acontecer com os personagens, mas o final submerge da história e segue até onde esta leva. David Grand aceita a ideia de que é inevitável que se tenha expectativas, mas não se apega a elas pressionando o paciente para que se encaixe nas suas suposições. Basta tomar nota e deixar passar. Ele sabe que, se são acertadas, aparecerão mais tarde. Para ser um bom observador tem que ser uma pessoa curiosa e inquieta. Essa atitude reduz possíveis projeções e aumenta a sintonia, porque o terapeuta não está mais em contato com suas questões não resolvidas, mas com a história que o paciente conta. Também permite que você se adeque ao ritmo da pessoa, e não apresse o processo.

ACEITAR SUAS PRÓPRIAS LIMITAÇÕES

"Desde as semanas após 11 de setembro, estou psicologicamente correndo em círculos, fazendo várias tarefas ao mesmo tempo, sentindo-me sob pressão e cometendo muitos erros."

Erskine, 2002

Ainda lembro do murmúrio que David Grand provocou ao mencionar que quando ele estava muito cansado, utilizava o BSP de rolagem com seus pacientes porque isso significava menos esforço. David não estava brincando: os terapeutas são antes de tudo seres humanos, com os nossos dias bons e nossos dias ruins. Nossas limitações são parte de quem somos. Então, se eu aceitar o paciente com as suas vulnerabilidades e limitações, se eu aceitar que o que emerge do paciente é o que tem que ser e está bem como é – independentemente do que eles entendem ou não – então é lógico supor que o que sai de mim também estará OK. Nesse sentido, a atitude de aceitação de David Grand mudou a forma como considero as minhas limitações. Antes de iniciar o workshop, o fato de ser como era, para mim foi um grande obstáculo.

Ser eu mesma significava não ser nem Mario Salvador, nem David Grand, nem Richard Erskine. Esta constatação, aparentemente simples, me levou a uma grande mudança de atitude: não ser nem um deles implicava em renunciar à exigência que eu havia me imposto de fazer terapia como eles. Não preciso provar meu valor a ninguém, posso me concentrar em meus pacientes, sem que a pressão de ser como os professores interponha em meu trabalho. Não é para copiar os outros, mas para ver o que fazer com o que surge no processo.

CRIATIVIDADE


"A criatividade envolve a busca de novas soluções. Criatividade leva a mudar. Podemos aprender a criatividade abraçando as perspectivas dos outros. Criatividade inclui examinar os problemas a partir de uma nova perspectiva."

Erskine, 2007

O que se pode fazer com o que surge no processo? Tudo depende do paciente, do terapeuta, das possibilidades de ambos e do momento que atravessam. Da mesma forma que no BSP não faz sentido que o terapeuta trate uma sensação de pressão no peito como se fosse um formigamento em seu pé, não faz sentido o terapeuta esperar terminar uma sessão com um determinado resultado, como eu havia pretendido com o meu primeiro paciente no verão. O terapeuta criativo sabe disso, por isso deixa que a sessão flua em seu próprio ritmo, como o surfista que procura se manter em cima da prancha esperando com curiosidade para ver onde a onda o leva. O terapeuta criativo conhece a teoria e as técnicas mas também fica em contato consigo mesmo, com o cliente e com a dinâmica da relação. Mantém uma atitude curiosa e aberta, uma atitude de "Por que não?". As sugestões do David Grand que mais gostei foram “trial and error” (tentativa e erro) e "mix and match" (misturar e combinar). Cada paciente é único, não há regras fixas que funcionaram em todos os casos. Por isso, é bom deixar que a intuição a respeito do paciente se converta em uma hipótese suscetível de ser testada. Ao final das contas, é na criação de um espaço que as surpresas são bem-vindas.

CONCLUSÃO

Fui ao workshop BSP empenhada em aprender uma técnica nova, me empenhei para obter um treinamento que me ajudasse a ter o controle do processo terapêutico, mantendo-me segura. No entanto, a experiência como paciente, tornou-me ciente dos meus recursos.

Percebi que os pacientes não são seres indefesos. Pelo contrário, eles têm a chave do seu próprio processo. A tarefa do terapeuta não é fornecer ao paciente uma solução mágica, mas a construção de uma estrutura que incentive o contato consigo mesmo, ajudando-o a obter suas próprias respostas.

Isto levou-me a mudar a minha necessidade de controle por uma atitude de confiança e curiosidade ajudando-me a aceitar minhas próprias limitações e a fluir com o processo, onde a coisa mais importante para mim é a criatividade e o respeito pela sabedoria interior do paciente.

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